terça-feira, 3 de maio de 2011

Da humanidade das Letras / JORNAL O POVO

Da humanidade das Letras

"O papel precípuo de qualquer universidade é a produção de conhecimento"

Em 2011, o curso de Letras da Universidade Federal do Ceará (UFC) festeja seu primeiro cinquentenário com as comemorações tendo início durante a 8ª Semana de Humanidades, evento promovido pelas duas universidades públicas que temos em Fortaleza, no período de 3 a 6 de maio.

Pode parecer pouco, comparado a cursos de outras universidades, como as europeias, por exemplo, algumas com mais de 450 anos. Mas, nesse primeiro meio século, passaram pelo curso de Letras da UFC alguns de nossos atuais poetas, escritores, jornalistas, advogados, secretários de Educação e, principalmente, professores de línguas e de literatura que atuam em nosso Estado e em outros rincões deste imenso país.

Mas para que serve um curso de graduação em Letras? Que contribuição pode dar? Será que está acompanhando as demandas sociais e atendendo às exigências do mercado? São questões que permeiam o imaginário coletivo dos ingressantes e também dos egressos e, em busca de elucidação, proponho algumas reflexões.

Em primeiro lugar, o papel precípuo de qualquer universidade é a produção de conhecimento capaz de auxiliar no alcance da felicidade das pessoas que por elas passam e, também, das que serão afetadas pela atuação de seus graduados.

A principal contribuição que um curso de Letras deve dar, conforme previsto nas diretrizes curriculares, é a formação de profissionais interculturalmente competentes, capazes de lidar, de forma crítica, com diferentes linguagens, especialmente a verbal, nos contextos oral e escrito, com ampla consciência de sua atuação na sociedade e das relações com os demais.

Indo além das diretrizes curriculares, um curso de Letras é também o espaço privilegiado para a implementação de ações concretas para um mundo melhor, mais humano e solidário, em que ser sobrepuje o ter, gestando um sonho possível de uma sociedade em que os conflitos possam ser dirimidos através do diálogo e, em que a palavra do outro seja ouvida, contemplada e respeitada.

Não é papel de nenhum curso, apenas, preparar para o mercado, e sim propiciar as melhores condições para o desenvolvimento de uma consciência crítica que nos coloque acima das necessidades mercadológicas.

Ao invés de dar à sociedade pessoas qualificadas para atuar com competência no mercado de trabalho, precisamos legar cidadãos em condições de refletir na busca constante de soluções para os desafios que se nos apresentem, inclusive, os advindos das condições de produção e consumo de bens e serviços.

Parabéns a todos os que fazem o curso de Letras da UFC, gestores, servidores técnico-administrativos, professores, graduandos e graduados, que os próximos 50 anos não sejam apenas mais uns anos, mas que continuem sendo cada vez mais humanos.

Rosemeire S. Monteiro-Plantin
meire@ufc.br
Professora do curso de Letras da UFC


Nenhum comentário:

Postar um comentário